quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Continuando ...

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Sob minha unha posso esconder a semente de um cedro (Cedrella fissilis) que vai se tornar uma frondosa árvore no verão. No inverno deixa cair suas folhas para preparar seu novo ciclo na primavera, quando são revestidas do mais belo e verde veludo. E este ciclo se repetirá, até que no início de uma futura primavera, ele não mais mostrará suas folhas. Por mais belo e forte que seja,, é apenas uma questão de tempo para que o cedro volte a ser pó, após a grande energia da vida abandonar o seu tronco. Mas, longe ou perto dali, uma nova pequena semente estará brotando, trazendo ao sol um novo cedro.

 Dando continuidade à temática  "Eternidade", quando escrevi VOO LIVRE, foi nos cedros que me inspirei, pois um dia também não mais terei a primavera.         





VOO LIVRE


O pouco sol do fim  ilumina as montanhas que já vivi.
Nelas, lutei  contra horrendos monstros. Alguns leais.
De seus picos, rolei sempre por rochosas arestas,
Saindo  cada vez menos ferido, forte pelas sangrias.

Vejo agora que vão sumindo as profundas cicatrizes.

E os meus amores... Ahhhhh... vão fechando minha vida.
Elas vem me rodear em longos braços perfumados !
Enchem meu quarto, acariciando o ocaso do meu olhar.
Todas estão comigo: todas na neblina, duas ao espelho.

Então, entre silenciosas trombetas e cores ao vento,
o anjo me vem, trazendo em si minha luminosa coroa.
Na coroação tudo é névoa, com luz desconhecida,
explodindo despedidas sob as últimas muralhas...

Ficamos ao pico aberto da mais alta montanha,
Com o gelo quebrando lento o cristalino da visão.
Tudo some e vejo, perto, meu corpo virar pó,
voltando à grande vida onde não há,  não é.

...e ouço agora de ti a doce e leve voz do eterno...
vinda da ponta do arco-íris, espiral entre nebulosas,
onde és imensa, com teus braços, com tua boca.
... e, ao vento das estrelas, vou, vivo, finalmente a ti.







Ronaldo Fontoura

Inverno de 2006








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