segunda-feira, 27 de setembro de 2010

LER DEVIA SER PROIBIDO

Caros amigos!

Recebi este texto  de Guiomar de Grammon que me tocou profundamente!

Deleitem-se!

"A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.
Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A loucura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Don Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.
Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas, para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?
Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.
Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.
Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.
O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. É esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisão tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?
É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silencio da alcova... Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.
Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.
Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.
Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos... A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.
Ler pode tornar o homem perigosamente humano".

In: PRADO, J. & CONDINI, P. (Orgs.). A formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus, 1999. pp. 71-3.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Igreja do Galo

Está em pleno andamento as obras de restauração da Igreja do Galo em São Gabriel, iniciativa do Instituto Cultural Harmonia Gabrielense e da comunidade. Até pouco tempo atrás (2008), esta igreja estava igual uma tapera abandonada, servindo de morada para a fauna e flora urbanas, a meia quadra da praça central de São Gabriel (Praça Fernando Abott). Tentei guardar o instante e meus sentimentos em um pequeno poema.


Da velha torre


Pousada na velha torre
Repousa a pomba só
Logo chega outra ave
E se aninha junto ao pó

Levantam a polvadeira
Quando se lançam ao léu
Dançando com suas asas
No palco azul do céu

Enraizados na torre
Os arbustos floridos
Contrastam com a dor
Dos tijolos feridos

Tivesse voz a torre
Sem o galo, sem o sino
Às pombas e arbustos
Brindaria seu destino

Rafael Cabral Cruz
São Gabriel, 14 de outubro de 2008.





Um convite à comunidade gabrielense

Este ano é muito especial para São Gabriel. Após 4 anos, a UNIPAMPA forma as primeiras turmas, consolidando um projeto que saiu do campo dos sonhos, cavalgou por corredores tortuosos e lamacentos, mas fez pouso final junto à tranquilidade de uma limpa e bela aguada. A cidade mudou muito nestes quatro anos. Houve uma acolhida muito boa para a nova comunidade acadêmica. A cidade nos abraçou. E juntamente com este carinho, abriu espaços para que esta gente nova, vinda dos mais diferentes rincões, fosse envolvida pela cultura da terra de Alcides Maia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Alcides_Maia).
E faz parte da vida acadêmica o cultivo da cultura, da busca da universalidade, que extrapola os conteúdos trabalhados nas salas de aula, laboratórios e atividades a campo. Acima de tudo, nós, acadêmicos, somos seres humanos, críticos, dotados de capacidade de sentir, amar, chorar e se ligar nas redes de relações humanas através de linguagens outras que não aquelas típicas de nossa atividade profissional.
Temos descoberto, ao longo destes quatro anos, manifestações artísticas no seio de nossa comunidade acadêmica.
Já em 2007, nosso economista Edson Prestes foi premiado em concurso literário promovido pela Associação Alcides Maia. Na Feira do Livro, do mesmo ano, poemas de professores, técnicos administrativos e alunos da UNIPAMPA foram expostos em praça pública. No ano seguinte, o livro Poetas Gabrielenses (https://editoraalcance.lojapronta.net/produtos_descricao.asp?lang=pt_BR&codigo_produto=69), foi lançado na Segunda Feira do Livro de São Gabriel, consolidando a união entre poetas da terra (Ronaldo Fontoura, Marcelo Mendonça - adotado a muitos anos - e Rossyr Berny) e colegas da UNIPAMPA (Márcia Meneghini, Edson Prestes e Rafael Cruz), fruto da amizade surgida durante a Feira do Livro. Daí o nome Confraria da Feira. Mais do que um simples nome, significa a integração cultural que fervilha na cidade, tendo como padrinho o nosso editor, poeta e amigo Rossyr Berny.
Muitos colegas possuem  materiais artísticos ocultos em gavetas guardadas a sete chaves. Outros já são consagrados em concursos internacionais de poesia e tem suas obras publicadas (como nosso Diretor Ricardo Gunski). Outros possuem blog próprio, onde divulgam seus materiais, ou participam de blogs coletivos de literatura, como o Recanto das Letras (http://recantodasletras.uol.com.br/) ou Autores (http://www.autores.com.br/).
O objetivo deste blog é criar um local onde possamos trocar experiências e juntar, em um local, manifestações culturais da comunidade acadêmica da UNIPAMPA e da comunidade gabrielense.
Este espaço está aberto a todos que queiram se integrar a este movimento. Não somente poesia, mas crônicas, material audio-visual, fotografias, enfim, qualquer tipo de linguagem que envolva catarse, notícias culturais, divulgação de obras, eventos, apresentações, etc.
Sejam felizes!