terça-feira, 25 de outubro de 2011

PALEONTOLOGIA DA VIDA

No último domingo, na V Feira do Livro de São Gabriel, estava conversando com os escritores Cláudio Moreira e Luís Artur Borges Pereira, navegando reminiscências, quando me referi ao Bar Americando, Galeria Quilombo, grupos Americando, Quatro Cantos, Santo Ofício (do qual fiz parte, junto com Eduardo e Mequinho), Basílio Conceição, Plínio, Hélio, Roseli, Harry Rosa, Thadeu Gomes e tantos outros músicos daquela época (primeira metade da década de 80 em Pelotas) e disse que hoje eu era um ex-músico. Luís me interrompeu e disse que não existe ex-músico. Prontamente, respondi dizendo que existiam fósseis de músicos dentro de mim....

PALEONTOLOGIA DA VIDA

Rafael Cabral Cruz

Nossa vida é uma sucessão de momentos,
Alguns intensos, amargos ou felizes,
Outros, que nem deixam cicatrizes,
São como areias carregadas pelos ventos.

O tempo passa lento e, inexoravelmente,
Vai sedimentando fragmentos de vida...
Na turbulência, dos amores, da lida,
Vai tudo soterrando, impavidamente...

No entanto, sedimentado em mim,
Há fósseis de momentos sentidos,
Imagens de espelhos retorcidos,
Enterrados debaixo dos alecrins...

Às vezes, quando bate a saudade,
Escavo estratos de sentimentos
Na busca de vívidos fragmentos
De momentos que perdi....

Descubro, na poeira da idade,
Que de fósseis e fragmentos,
Somente novos sentimentos
Me dizem que vivi!



quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Algumas reflexões iniciais sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação e a educação

Durante a Jornada EaD efetuada na UNIPAMPA, em São Gabriel, escrevi este texto, com base em reflexões surgidas ao longo dos debates do primeiro dia de trabalhos. Espero que seja útil para entendermos o papel das TICs na sociedade moderna-líquida.

Abraço                         

Rafael Cabral Cruz, professor adjunto do Campus São Gabriel da UNIPAMPA

É notável como as tecnologias de informação e comunicação (TICs) têm entrado na nossa vida de forma avassaladora. 

Há um tempo atrás, quando trabalhava na Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul no Projeto de Monitoramento de Fauna Cinegética (aves de caça), um colega contou um caso muito interessante que reflete o contraste e a forma como as pessoas viviam as informações. Por ocasião de uma campanha de censo terrestre de aves aquáticas na região de Bagé, chegou uma equipe em uma Toyota Bandeirante repleta de equipamentos em um bolicho de campanha para tomar um refrigerante. Ao ingressar no recinto, paramentados com roupas camufladas, com máquinas de fotografia penduradas no pescoço, um gaúcho, apoiado em um dos cotovelos sobre o balcão, bicando um martelinho, não deixou de observar aquelas criaturas diferentes. Não resistiu. Logo perguntou:

- Não me leve a mal a pergunta, mas o que vocês fazem?

Prontamente um dos membros da equipe saiu explicando que estavam fazendo levantamento, nos banhados e açudes, do número de marrecas que existiam, explicando como procediam as contagens. O gaúcho ouviu atentamente entre um trago e outro de canha e, após a explanação, soltou:

- Hummmmm! Então vocês são tropeiros de marrecas......

Os censos eram realizados anualmente. Deste modo, no ano seguinte, a equipe parou no mesmo bolicho e encontrou o mesmo gaúcho encostado no balcão, com o mesmo copo de canha.... Segundo o bolicheiro, depois que a equipe partiu no ano anterior, a “tropeada de marrecas” foi assunto de acalorados debates no bolicho por mais de quatro meses!

Mais ou menos na mesma época, em função de meus estudos referentes ao mestrado, fiz uma viagem a São Paulo e, na bagagem, trouxe cerca de 30 kg de xerox de artigos que somente encontrava na USP. Valia a pena, pois para termos acesso aos artigos, fazíamos pesquisas na biblioteca da UFRGS em arquivos constantes em microfilmes e solicitávamos cópias pelo sistema de comutação bibliográfica (COMUT). Algumas vezes demorávamos mais de seis meses para receber o artigo solicitado. Eles viajavam pelo correio.

Naquela época, a quantidade de conhecimento que um profissional acessava durante a sua formação, através do que era repassado pelos professores ou que havia nas bibliotecas, definia o valor que o profissional teria para enfrentar os desafios profissionais no futuro. De certa forma, a qualidade da informação era certificada pela academia, uma vez que era repassada pelos docentes ou no acervo cuidadosamente selecionado das bibliotecas.

Pelo acesso a informação ser lento, líamos e relíamos os artigos e livros, refletíamos e discutíamos em grupos de estudo, procurando entender todo o conteúdo e pensar sobre as possíveis aplicações para a nossa realidade (a qual poderia ser genérica, em termos de visão de mundo ou específicas dos trabalhos nos quais estávamos envolvidos na iniciação científica).

Com o advento da internet, a conjuntura muda radicalmente. Na minha área, se colocar a palavra de busca “ecologia” no Google, obtenho o seguinte retorno: “Aproximadamente 34.600.000 resultados (0,10 segundos)” . Se usar “ecology”, obtenho: “Aproximadamente 96.400.000 resultados (0,09 segundos)”.

Imaginem que eu queira verificar cada uma destas entradas. Se quiser somente verificar se o sítio é interessante e gastar cerca de três minutos em cada um, gastaria cerca de 197 anos para terminar a tarefa para a palavra “ecologia” e cerca de 550 anos para “ecology”.

O universo de informações que uma pessoa pode acessar hoje, em função das TICs, é infinitamente maior que a sua capacidade de apreender este conhecimento ao longo de toda a sua vida.

O mundo do bolicho de Bagé e o da internet, orkut, facebook não está tão distante, nem no tempo, nem no espaço. No entanto, são completamente diferentes. No primeiro caso, as pessoas podiam viver uma novidade e discutir durante meses a mesma, digeri-la, até que uma nova novidade viesse desbancar a manchete (que não era do dia, nem da hora como na BANDNEWS, mas do ano). As informações, ao ficarem mais fáceis, também se tornam cada vez mais “instantâneas”, e as manchetes se sucedem de modo mais rápido, não deixando tempo para uma digestão adequada das mesmas. De certa forma, as TICs provocaram o que pode ser chamado de poluição informativa.

Se eu pudesse cumprir a missão de consultar durante os 550 anos somente as entradas listadas nas consultas acima (vamos imaginar que eu achei o elixir da longevidade e que vou ignorar todas as entradas novas sobre o tema nos próximos 550 anos), descobriria daqui a 550 anos, que a maior parte das entradas que teria avaliado durante todo este tempo seriam puro lixo. Poluição informativa, degradando o ambiente informacional e o nosso cérebro, que é o órgão através do qual construímos nossa visão de mundo. Descobriria que haveria perdido 550 anos de vida. No entanto, vivemos com uma expectativa de cerca de 75 anos. Logo, além de não podermos mais, como no tempo de Aristóteles, ter acesso a todo o conhecimento da humanidade, e nem mesmo de uma área do conhecimento, as habilidades e competências de um profissional deixaram de ser avaliadas em termos da sua capacidade de acumular conhecimento sobre uma série de disciplinas. Hoje a informação não está mais em uma biblioteca de um campus universitário, ela está, virtualmente, em todo o lugar, basta ter acesso à internet.

Nossos filhos já nascem em um mundo digital.

Neste mundo do instantâneo, são capazes de lidar rapidamente com o aprendizado tecnológico. Aprendem a usar computadores, softwares, celulares, smartphones, tablets com uma velocidade enorme. No entanto para que usam estas habilidades? Para que usam as TICs?

Vejamos a evolução das redes sociais. No MSN, as pessoas conversavam escrevendo sobre os temas e trocando informações rápidas. Dada a necessária velocidade da comunicação, a própria grafia começou a ser alterada, com “q” em lugar de “que” e assim por diante. Com o Orkut, as pessoas começaram a ser mais breves e os recados passaram a ser dominantes. No Facebook, os recados são ainda mais curtos e no Twitter, telegráficos. Assim como a duração da mensagem, sua validade se esgota em minutos, se não segundos. Não existe tempo para parar e pensar.

Além das redes sociais, basicamente os jovens usam a internet para jogos on line.  Quando usam para outros fins, normalmente é para assistir o You Tube, fazer downloads de músicas, filmes e acessar sítios de artistas. Além disso, somente por obrigação, quando são cobradas pesquisas na escola. Neste caso, além da Wikipédia, costumam consultar sítios que postam trabalhos prontos....

Raramente encontramos jovens que navegam na internet filtrando informações e usando seu conhecimento adquirido na escola e nas leituras para filtrar o lixo informativo e construir um conhecimento próprio, realmente. Para fazer isto, filtrar, são necessários filtros. Filtros são conhecimentos que possuem credibilidade e que podem ser adquiridos na escola ou nas leituras orientadas pela escola e, muitas vezes, pela família. Se alguém navega pela internet sem filtros, não poderá avaliar se as informações disponíveis nos sítios são válidas, contribuem para a construção do conhecimento, ou se são lixo informativo, que somente constrói a confusão e a dificuldade no aprendizado, quando não divulgando informações falsas e interpretações baseadas em suposições infundadas.

Ao contrário do passado, onde o profissional era avaliado pela quantidade de conhecimento que tinha, hoje, em um mundo poluído por lixo informativo, a maior competência é a de saber filtrar, em meio a um universo de informações infinito para fins práticos, as informações que são relevantes para que se possam construir conhecimentos que ajudem a melhorar a qualidade de vida do ser humano.

Isto requer um profissional que não é levado pela maré da torrente de informações instantâneas e irrefletidas. Isto pressupõe um profissional que sabe usar as TICs, que as domina e que as coloca a serviço do pensamento crítico. Ou seja, o oposto do sentido dominante da mídia, que é cada vez mais instantânea e acrítica. Hoje a mídia opina e pensa pelas pessoas, formando a opinião pública. Incute este senso comum “guela abaixo” das pessoas, em uma torrente de informações que não permite parar e pensar, uma legítima lavagem cerebral coletiva.

As TICs devem estar a serviço de quem? Da sociedade como um todo ou de alguns?

As TICs devem estar a serviço da humanidade, não a humanidade a serviço das TICs. Nosso futuro será o do ciborgue, que submete a tecnologia ao ser humano, ou da robotização do mesmo?

Bem, esta discussão exige, também, que se reflita sobre a conjuntura na qual se insere o programa de expansão do ensino superior no Brasil e o papel da EAD para atingir as metas.

Embora o Brasil esteja entre as dez maiores economias do Planeta, seus indicadores de qualidade de vida não correspondem ao acúmulo de riquezas. Entre eles, a educação do Brasil ocupa o 88º lugar na pesquisa de qualidade do ensino efetuada pela UNESCO, entre 127 países pesquisados.

O Brasil, em 2000 tinha 12,39% da população com Ensino Médio completo e 3,47% com Ensino Superior completo. Se considerarmos que o Japão, último país a embarcar no trem da Revolução Industrial no século XIX e criar as bases para se tornar um país desenvolvido, o que ocorreu como conseqüência da Revolução Meiji, em 1870, época da revolução, já possuía cerca de 40% da população economicamente ativa com o ensino médio completo.

Existe, portanto um grande déficit educacional para um país que deseja se tornar um país desenvolvido. Isto está por trás das políticas de expansão do Ensino Superior, incluindo, entre as estratégias, a EAD. Tudo para mudar, de forma acelerada este quadro de déficit educacional.

Para isto, as políticas públicas visam reduzir o tempo para formação dos estudantes, reduzir a evasão e aumentar o número de matrículas em um ritmo mais rápido que o crescimento populacional. Este desafio leva à chamada política da padaria, onde as instituições de ensino são pressionadas para formarem verdadeiras fornadas, sem que os “pães” “queimem”, ou seja, sem ultrapassar o tempo previsto para se formarem.

Esta pressão quantitativa pode gerar, por outro lado, um déficit de qualidade. Vejam dados que recebi do prof. Afrânio Righes:

“A China  investiu na capacitação de seus professores pagando melhores salários. O país destaca-se em 1º lugar na classificação da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que avaliou o desempenho dos estudantes com 15 anos do ensino fundamental em escolas públicas e privadas de 65 Países. O Brasil ocupa o 57º lugar em matemática, 53º em Literatura e 53º em Ciências (Veja, 2010). O senador Cristovam Buarque manifestou em Plenário, (23/03/2011), sua preocupação com o fato de o Brasil estar mal posicionado em relação aos demais países do mundo, ocupa o 88º lugar de 127 no ranking de qualidade da educação feito pela Unesco o país fica entre os de nível "médio" de desenvolvimento na área, atrás de Argentina, Chile e até mesmo Equador e Bolívia”.

De certa forma, nossas instituições de ensino estão como mariscos entre o mar e o rochedo. Por um lado pressionados por indicadores populacionais que apresentam um grande déficit educacional e por outro por um padrão de qualidade péssimo de nossa educação. Pergunta-se: é possível atender as duas demandas simultaneamente? Qual o papel das TICs neste processo? Atender a demanda quantitativa ou qualitativa? Usar as TICs como forma de acessar um mundo de informação de qualidade para aperfeiçoar e ampliar o processo ensino-aprendizagem ou para tentar usar como um curativo BANDAID para as feridas do nosso sistema educacional?

Responder a estas perguntas é algo fundamental para que possamos definir o papel das TICs na Educação.

V Feira do Livro de São Gabriel

Novamente estamos contemplando os toldos na praça, as pessoas transitando entre os estandes e o palco repleto de artistas e autoridades!
Que beleza ver a energia cultural de São Gabriel expressa em literatura, teatro, música e artes plásticas. A praça exerce o seu fascínio nestes dias. Exulta em sorrisos e encontros, diálogos de partilhamento de opiniões e emoções.
Parabéns São Gabriel por mais esta edição da Feira do Livro! Parabéns Dr. Poeta, patrono e exemplo de simplicidade e inspiração: gente de excelência!
Nós, da Confraria da Feira, além de estarmos presentes, também festejaremos o quinto aniversário de nosso encontro, nascido na fraternidade e voluntarismo que marcaram a primeira Feira do Livro de São Gabriel.
Abaixo segue a programação da Feira.


V FEIRA MUNICIPAL DO LIVRO
“A MAGIA DA LEITURA E DA ESCRITA NOS REVELA MIL TESOUROS”
VENHA CLAREAR SUAS IDEIAS!

PROGRAMAÇÃO
Local: Praça Dr. Fernando Abbott
20/10 – Quinta-feira
7h30min – CREDENCIAMENTO                                                                                        
9h – Abertura dos Estandes
10h – Abertura oficial da V Feira Municipal do Livro
CAMERATA DE VIOLÕES
10h30min – Teatro a cargo da E.M.E.Infantil Santa Clara: A Lebre e a Tartaruga
11h – Teatro a cargo da E.M.E. Infantil Trindade: Os Três Porquinhos
14h – Teatro a cargo da E.M.E.Infantil Sítio do Pica-pau Amarelo: Rapunzel
15h – Lançamento da obra e sessão de autógrafos: "Quando o céu madruga estrelas", de José Antônio Martins Macedo, Dr. Poeta.
16h30min – Teatro a cargo da E.M.E.Infantil Annadir França Laureano: A Cigarra e a Formiga
18h – Homenagem na Câmara de Vereadores ao Patrono da V Feira Municipal do Livro

21/10 – Sexta-feira
8h – Projeto Comunidade Leitora com o autor Walmor Santos na E.M.E.F.João Goulart
9h – Abertura dos Estandes
9h30min – Teatro a cargo da E.M.E.Infantil Severina Trassante Collares: Branca de Neve e os Sete Anões.
10h – II Copa de Xadrez
10h30min – Teatro a cargo da E.M.E. Infantil Alcida Chagas: Cinderela
13h30min – Palestra Motivacional com o autor Walmor Santos
Local: E.E. XV de Novembro
14h30min – Contação de Histórias com a Profª Bruna dos Santos
16h – Teatro a cargo da E.M.E.Infantil CAIC: Cachinhos de Ouro
16h30min – Contação de Histórias, com a Profª Nádia Vargas
17h – Teatro da E.M.E. Infantil Suely Barbosa de Abreu: Mágico de OZ
17h30min – Tarde de autógrafos: José Antônio Martins Macedo, Ana Rita Fagundes Léo, João Alfredo Reverbel Bento Pereira, Jeferson Marçal da Rocha, Roberto Bisogno, José Serafim Castilhos Jr. (Juca), Ester Bueno da Silva, Wilson Ferreira, Sonia Marli Ferreira, Luís Borges e Douglas Lisboa Melo
19h – Show com os cantores Vitória Staggemeier e Mauro Silva

22/10 – Sábado
9h – Abertura dos estandes
10h – Exposição de Gibis
14h30min – Apresentação de Bandas
15h às 17h – Tarde de autógrafos: José Antônio Martins Macedo, Ana Rita Fagundes Léo, João Alfredo Reverbel Bento Pereira, Jeferson Marçal da Rocha, Roberto Bisogno, José Serafim Castilhos Jr. (Juca), Ester Bueno da Silva, Wilson Ferreira, Gelson Weschenfelder, Luís Borges, Douglas Lisboa Melo e Sonia Marli Ferreira
17h – Contação de Histórias com a Profª Vera Lígia Macedo
20h – Show com Wilson Paim e Banda
23/10 – Domingo
10h – Abertura dos Estandes
Exposição de Gibis
16h – Desfile das artesãs da E.M.E.F. Mascarenhas de Moraes
17h – Mateada Cultural
18h – Sarau de Poesias, com José Antônio Martins Macedo – Dr. Poeta, Clair Alves, Maria da Graça Cunha, Elody Menezes, Nelsi P. de Matos, Fernando Almeida, Rossyr Berny, Luís Borges e Cláudio Moreira
20h – Show com a Banda Improviso
21h – Encerramento Oficial da V Feira Municipal do Livro pelo Secretário Municipal Hélio Lemos Menna, pelo Patrono José Antônio Martins Macedo e pelo Capataz Nairo Pinto Gonçalves.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Do acordar ao teu lado

Rafael Cabral Cruz
Para Sônia


Teu rosto amanhece límpido,
um suave caminho brilhante
feito de pele, pelos e lábios...

Me chama, senda mágica!
Sou trêmulo caminhante
atrás de teus olhos sábios...

De que vale o caminho
sem o andar do viajante?

Neste quieto carinho
feito de luzes difusas,
espero por ti,
minha musa,
namorada,
amante...

Quero,
ao teu lado,
todo céu e terra,
toda a natureza,
toda beleza,
que teu corpo
encerra...


E, então, descobrir o paraíso!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Noche

La noche se durmió entre mis sábanas,
escondiendo sollozos entre truenos.
Las primeras luces dijeron no era sueño
el motivo de la pena y del desvelo.
Y aunque vivas en mi alma,
y aunque no busque consuelo,
cada estrella dirá tu nombre
toda vez que mire el cielo.

Esporeando

Cansado de fazer sombra
Sempre no mesmo lugar
Encilhei o meu tordilho
E saí do Uruguai

O xergao, carona e basto,
Judiados das camperiadas,
Os pelegos meia la,
E as cordas bem engraxadas.

Vou cambiar o meu destino,
Levo comigo as lembranças
E uma mala de garupa
Carregada de esperanças.

Se foi o tempo de farra,
Agora é uma vida nova;
Tenho um guri que é meu norte
E a prenda que me consola.

As estradas sao mais curtas
Se sabes pra onde vais,
Se sabes bem o que queres
E sabes que queres mais.

E se cansa o meu pingo
Ou se enfrento temporais,
Se me perco em noite escura
Ou saudoso olho pra trás

Penso na prenda e no filho,
Um sorriso invade a alma,
Cravo esporas no meu pingo
E continuo a minha jornada.

domingo, 5 de junho de 2011

Sentinela das Águas

O ronco dos bugios
contraponteia o Uruguai...

Roncador,
rio que canta e cai
entre rochas e sarandis!

E ali,
entre rochas e águas,
amores e ardis,
paira, vigilante,
o casal de quero-quero...

.....................

Ou será tero-tero?....

quinta-feira, 2 de junho de 2011

LÍNGUA MORTA ?


O falar tupi-guarani vive entre nós.




Na TAPERA do CAIBOATÉ, o CAIPIRA BAGUAL, no CAFUNDÓ do BATOVI, CAPINOU a CAPOEIRA do CAPÃO,  com muita TAQUARA, BUTIÁ e ARAÇÁ, além do CAPIM. 

Nessa BIBOCA, perto da SANGA do JACARÉ, o CABOCLO plantou GOIABA,  MANDIOCA, AIPIM,  PIPOCA e AMENDOIM.

O PIÁ, seu filho CAÇULA, após curado da CACHUMBA e CATAPORA, fugiu até a SANGA , no PANGARÉ, de nome TUPÃ. Mergulhou e ficou de TOCAIA, oculto pela CANOA,  até o pai se afastar.

Ao sair do AGUAPÉ, na lama cheia de MINHOCA, com a CARAPINHA molhada, afugentou  CAPIVARA, URUBU e um TUCANO, que pousara em um pé de ARATICUM. Montou sua ARAPUCA para pombas, pois era essa sua missão do dia.

Enquanto esperava, o PIÁ , na velha PAINEIRA, cheia de SAMAMBAIA, CIPÓ  e  CATURRITA CARIJÓ, foi colher mel de MIRIM, mas lhe atacou um enxame de MARIMBONDO saído dos galhos de um INGÁ. Correu rápido para a mata de AROEIRA, PITANGA, MATE,  CAÚNA, GUAJUVIRA, CATIGUÁ, GUAMIRIM, CABROÉ,  CAMBOATÁ,  AGUAÍ, CAMBARÁ,  COPOROROCA,  GUABIJU  e  JERIVÁ. 

Correndo, tropeçou em um CUPIM, acordando um GAMBÁ que descansava sob um ABACAXI-ANANÁ, coberto por uma trepadeira de CUMBUCAS, CUIAS que os índios utilizavam para beber água.

Entardecia. Ele precisava voltar com sua caça. Depois de atravessar a cavalo a sanga do PIRAÍ e o rio JAGUARI,  o menino chegou de volta à TAPERA, coberto de PEREBA.  Foi ajudar  o pai, seu XARÁ, que estava construindo, em MUTIRÃO, uma casa de torrão.

Depois do banho no VACACAÍ, sua mãe o esperava com um quentinho PIRÃO doce de CANJICA. Saboreado o MINGAU, dormiu ao embalo de um materno e sonolento CAFUNÉ.


As palavras grafadas em maiúsculo, têm sua origem no tronco linguístico tupi-guarani.



Monumento aos últimos charruas, nômades do Pampa Gaúcho e Uruguaio.

-Declarado Monumento Histórico Nacional do Uruguai
-Realizado por Edmundo Pratti, Gervasio Furest Muñoz y Enrique Lussich, 1938.
-Localizado no Prado de Montevidéu. Homenageia o povo charrua após ser dizimado na "Matanza de Salsipuedes", em 11/04/1831.

-São representados os caciques  Vaimaca, Tacuabé, Senaqué y Guyunusa



Autor: Ronaldo Machado da Fontoura, 2/06/2011




y'BAKACAAI




Das minas graníticas de Babaraquá,
se estendem os primeiros fios de cristal,
levando  luz  entre aromas das canelas,
alimentando nuvens de penas. Escamas.

No degrau aos sedimentos, a lentidão
flutua buquês estrelados da guajuvira,
mergulhados das copas de chumbo.
Ao calor das pedras , peixes insaciados
vêm ao sabor das azeitonas do tarumã,
obelisco no negro encharcado do solo.

Ilhas acorrentam correntes acorrentadas,
amarradas aos novelos de sarandis ...
e a já fina lâmina atravessa a cidade.

Surdos ouvem gritos do espancado,
estuprado pelas  adiadas ações,
afogando liberdade às torrentes.

Mas galopam os aromas rosados,
vapores inundados do açoita cavalo,
ladeados pelos dragões dos jerivás.

A água, curvas macias de pele morena,
sua sangas de sensualidade  avermelhada,
das doces cerejas do guamirim noturno.

Encalham nas florestas derrubadas,
os barcos que buscavam o dourado
fugitivo, a coruja que voou do cabroé.

...e  águas virão,  após esta cegueira,
trazer as sementes mágicas do  aguaí
plantadas em casal,  nas curvas do rio,
esperma e fruto do triunfo da vida.



Rio Vacacaí - São Gabriel


Texto e foto: Ronaldo Machado da Fontoura, 2/06/2011





quarta-feira, 25 de maio de 2011

De Rios e Águas


Seguindo o tema das águas, lembrei de um poema de Gabriela Mistral (1889-1957), grande poetisa (Prêmio Nobel de Literatura) e professora chilena, presente em sua Antologia. Deleitem-se.


           Agua


             Gabriela Mistral

Hay países que yo recuerdo
como recuerdo mis infancias.
Son países de mar o río,
de pastales, de vegas y aguas.
Aldea mía sobre el Ródano,
rendida en río y en cigarras;
Antilla en palmas verdi-negras
que a medio mar está y me llama;
iroca lígure de Portofino:
mar italiana, mar italiana!

Me han traído a país sin río,
tierras-Agar, tierras sin agua;
Saras blancas y Saras rojas,
donde pecaron otras razas,
de pecado rojo de atridas
que cuentan gredas tajeadas;
que no nacieron como un niño
con unas carnazones grasas,
cuando las oigo, sin un silbo,
cuando las cruzo, sin mirada.

Quiero volver a tierras niñas;
llévenme a un blando país de aguas.
En grandes pastos envejezca
y haga al río fábula y fábula.
Tenga una fuente por mi madre
y en la siesta salga a buscarla,
y en jarras baje de una peña
un agua dulce, aguda y áspera.

Me venza y pare los alientos
el agua acérrima y helada.
Rompa mi vaso y al beberla
me vuelva niña las entrañas!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Do Rio


Foto de Rafael Cabral Cruz


As águas passam.
Cada entardecer resplandece em luzes.
Cada um diferente do outro.

O rio flui.
O vento canta nas ramagens.

E
O barco
Espera o mesmo pescador,
Neste mesmo rio
Que não é o mesmo...
Mas continua sendo
A cada dia
O Rio!

E
Nesta onda
Vive o mesmo pescador.
Um mesmo olhar
Que não é o mesmo...
Fitando um destino
A cada dia
Novo!

sábado, 7 de maio de 2011

Um pouco de Nazim Hikmet

Era  tempo de estudo, estava na faculdade e me mudara para uma casa conjugada próxima ao campus da FURG, no centro da cidade de Rio Grande. Às vezes era insuportável a poluição da Refinaria que ficava próxima. Naquela casinha, morava com o estudante de Direito Flávio Xavier, que havia voltado de uma estada na Patrice Lumumba em Moscou. Entre as relíquias que trouxe de lá estava um livro com a tradução para espanhol de um poeta turco, desconhecido para nós, mas que havia escrito poemas que tocavam profundamente o nosso ser. Este poeta era Nazim Hikmet. Revolucionário, foi perseguido e preso em seu país e acabou vivendo a maior parte de sua vida no exílio e na prisão. Nazim Hikmet nasceu em 1901 e faleceu em 1963, quando nasci. Seguem dois poemas do grande poeta turco.

Nazim Hikmet


Carta para Minha Mulher


Quero morrer antes de você.
Você acha que aquele que vai depois
encontra o que foi primeiro?
Eu acho que não.
O melhor seria me cremar
e me colocar num vaso
sobre o aparador de sua lareira.
E garanta que o vaso
seja cristalino,
assim você pode me ver lá dentro…
pode ver meu sacrifício:
desisti de ser terra,
desisti de ser uma flor,
para ficar somente junto a você.
E eu me tornei pó
para viver contigo.
Assim, quando você morrer,
você pode entrar aqui no meu vaso
e então viveremos juntos,
suas cinzas com as minhas,
até que uma noiva tonta
ou um neto rebelde
nos jogue fora…
Mas
a essa altura
já estaremos
de tal forma
misturados
que mesmo vertidos nossos átomos
cairão lado a lado.
Mergulharemos na terra juntos.
E se um dia uma flor selvagem
encontrar água e brotar desse pedaço de terra,
sua haste terá
por certo dois botões:
um será você,
o outro, eu.

Não é que eu
esteja para morrer.
Quero criar ainda outro filho.
Estou cheio de vida.
Meu sangue é quente.
Viverei ainda muito, muito tempo -
ao teu lado.
A morte não me mete medo,
apenas não consigo sentir especial atração pelos preparativos
de nosso funeral.
Mas tudo isso pode mudar
antes que eu esteja morto.
Alguma chance de que você saia logo da prisão?
Algo dentro de mim me diz:
Talvez.


Noite de Outono



Nesta noite de outono
estou pleno de tuas palavras
palavras eternas como o tempo,
palavras pesadas como a mão,
cintilantes como a estrela.
Da tua testa, da tua carne
Do teu coração...
Sinto-me junto das tuas palavras
as tuas palavras carecem de ti
As tuas palavras, mãe
As tuas palavras, amor
As tuas palavras, amiga
Era triste, amar
Era alegre, plenas de esperança
Era corajoso, heróico
As tuas palavras..
eram homens...


terça-feira, 5 de abril de 2011

O cordelista e o BBB


BIG BROTHER BRASIL 

Autor: Antonio Barreto,
Cordelista natural de Santa Bárbara-BA, residente em Salvador.

Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.

Há muito tempo não vejo
Um programa tão ‘fuleiro’
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.

Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, ‘zé-ninguém’
Um escravo da ilusão.

Em frente à televisão
Lá está toda a família
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme ‘armadilha’.


Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.

O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial.

Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.

Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.

Respeite, Pedro Bienal
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Dar muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.

Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério – não banal.

Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.

A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os “heróis” protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.

Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já tornou-se imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.

Talvez haja objetivo
“professor”, Pedro Bial
O que vocês tão querendo
É injetar o banal
Deseducando o Brasil
Nesse Big Brother vil
De lavagem cerebral.

Isso é um desserviço
Mal exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.

É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos “belos” na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.

Se a intenção da Globo
É de nos “emburrecer”
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que a exceção
(Amantes da educação)
Vai contestar a valer.

A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto a poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.

E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não deem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.

E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.

E saiba, caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.

A loja do BBB
Vendendo só porcaria
Enganando muita gente
Que logo se contagia
Com tanta futilidade
Um mar de vulgaridade
Que nunca terá valia.

Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.

Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
e vamos ficar calados
diante de enganadores?

Barreto termina assim
Alertando ao Bial:
Reveja logo esse equívoco
Reaja à força do mal…
Eleve o seu coração
Tomando uma decisão
Ou então: siga, animal…

FIM

Salvador, 20 de fevereiro de 2011.